terça-feira, 13 de março de 2018

Persépolis, mês da mulher e informativo contra preconceito

Oi, gente! Seguindo com o mês da mulher, vim trazer úma resenha da HQ Persépolis, escrita pela Marjane Satrapi. A HQ foi publicada em volume único pelo selo Quadrinhos na cia da editora Companhia das Letras.

Fig. 1 Persépolis - Marjane Satrapi, capa. Lido de 06 a 10-03-2018.
Contexto pessoal 

Essa é uma HQ que eu sempre tive curiosidade de conhecer. Tanto por se tratar de uma autobiografia de uma iraniana, quanto por ser tão conhecida e reconhecida, a ponto ser até utilizada em provas de vestibular. Foi uma das minhas aquisições que estava pegando poeira na prateleira esperando pra ser lida e eu sempre adiava (sei lá por que, né?). Graças à Carla da @tbrzero eu acrescentei ela na minha TBR do ano e resolvi encaixar agora em março como forma de homenagem ao dia da mulher também, porque diversidade é muito importante, não é mesmo?

Primeiras impressões / sentimentos

O livro traz uma introdução com a história da Persa/Irã, pra contextualizar o leitor. Confesso que, quando comecei a leitura, fiquei bem assustada achando que não daria conta, que não guardaria essas informações, que ia ter dificuldades com o contexto, nomes, mil revoluções, batalhas, guerras, sei lá, e que isso fosse me atrapalhar na leitura de alguma forma. Estava ávida para conhecer essa cultura tão distante da gente e que, quando passa na TV ou tem alguma notícia em qualquer outra plataforma, sempre me deixa confusa. Eu não entendo bem do Oriente Médio, desculpa mundo. Mas aí continuei a ler e vi que isso não fazia tanta diferença. Não era nada difícil, afinal, era uma história que começava a ser contada na visão de uma menina de 10 anos. Estava tranquilo. O sentimento era de empatia por aquela menininha que parecia estar vivendo no Conto da Aia, só que com guerras de bônus. :( E eu vou comentar melhor mais abaixo.


"Marjane Satrapi tinha apenas dez anos quando se viu obrigada a usar o véu islâmico, numa sala de aula só de meninas. Nascida numa família moderna e politizada, em 1979 ela assistiu ao início da revolução que lançou o Irã nas trevas do regime xiita - apenas mais um capítulo nos muitos séculos de opressão do povo persa.
Vinte e cinco anos depois, com os olhos da menina que foi e a consciência política à flor da pele da adulta em que se transformou, Marjane emocionou leitores de todo o mundo com essa autobiografia em quadrinhos, que só na França vendeu mais de 400 mil exemplares.
Em Persépolis, o pop encontra o épico, o oriente toca o ocidente, o humor se infiltra no drama - e o Irã parece muito mais próximo do que poderíamos suspeitar."

Sobre o livro / Opiniões

Os quadrinhos foram originalmente publicados em quatro volumes entre os anos de 2000 e 2003 e publicados em volume único em 2016 no Brasil pelo selo Quadrinhos na cia da editora Companhia das Letras. A história foi adaptada para um filme em forma de animação de mesmo nome em 2007 que ganhou várias premiações (que eu vou assistir em breve).

Fig. 2 Persépolis - Marjane Satrapi, por dentro. Início de capítulo.

Uma das coisas que mais me chamou atenção na história foi que, em todas as fases da vida da protagonista Marji, ela percebeu de alguma forma que precisava buscar conhecimento (sim, bem ET Bilu), seja para se integrar ou mesmo para entender melhor os movimentos sociais pelos quais vivia.  Os adultos estavam fazendo revolução, mas por quê? E ela ia ler sobre pra entender. Achei muito lindo isso e uma mensagem muito importante para todos. A Marji, mesmo tendo nascido num país tradicionalista e conservador, tinha uma família progressista que proporcionou a ela oportunidades para abrir a mente para o mundo e conhecer melhor a base de tudo. A própria família oferecia livros específicos de temáticas de interesse para seu entendimento de mundo em uma linguagem própria para a idade dela (logo no começo ela lia um quadrinho sobre materialismo dialético, com Marx e  outros pensadores). Essa base familiar e todo o apoio que ela recebia fez com que ela crescesse com consciência e questionasse tudo ao redor. O que nem sempre era uma boa coisa para quem vivia em um país onde o questionamento era castigado.

A história também mostra muito sobre como é viver em um país em que se mistura política com religião (cuidado, Brasil!). 
"Encontramos os mesmos extremistas em todas as religiões."
Um regime religioso que obriga mulheres a se cobrir e usar véu, porque elas são irresistíveis demais aos homens que não conseguem se controlar (desculpa, não consigo falar sobre isso sem sarcasmo). 
" - O cabelo das mulheres contém raios que excitam os homens. Elas devem escondê-lo! Se não usar o véu é sinal de civilização, então os animais são mais civilizados do que nós.
- Fantástico! Como se todos os homens fossem tarados!!"
Esse mesmo regime também proibia qualquer coisa que viesse do ocidente. Música, maquiagem, determinadas peças de roupa (jaqueta jeans, tênis de marca etc), até mesmo festas, álcool e por aí vai. E o que a população começou a fazer? Tudo na encolha. Porque a gente sabe que adianta muito proibir coisas, né? Achei interessante a ênfase que a autora dá de que para as mulheres de lá, usar maquiagem era sinal de resistência, rebeldia, revolução. 

Fig. 3 Persépolis - Marjane Satrapi, por dentro.
A história também mostra o desenvolvimento da Marji em suas diferentes fases da vida. Na sua pré adolescência, por exemplo, ela fez amizade com um grupinho adolescente "anarquista" adoradores de Bakunin. Nessa fase, ela tentava se enturmar, mas ainda não tinha muita voz. Ouvia os discursos dos outros (muitas vezes sem nexo), acompanhava os comportamentos (sem exatamente participar), era contra muita coisa mas apenas sorria e acenava

Fig. 4 Persépolis - Marjane Satrapi, por dentro. Pré-adolescência.
 Último quadrinho à esquerda:
"Amigo punk: Vamos lá, relax, aproveita! Vê se fica mais culta! Você nem conhece o Bakunin!
Marji: (balão de pensamento/sorriso no rosto) Babaca..."
A história também conta com questões de imigração, dificuldade de encontrar uma identidade (parecido com o dilema de O Xará) e toda uma problematização sobre privilégios que eu achei muito boa e sutil. Nenhum desses tópicos foi tratado diretamente (a não ser, talvez, a questão da identidade). Marji não tentou entender apenas o mundo, ela também queria entender a si mesma. Eu pulei de alegria quando me deparei com a Marji fazendo isso enquanto lia um livro da Simone de Beauvoir, autora que ainda não tive a oportunidade de ler, mas já ouvi muito falar e sei que preciso muito conhecer.
"Se eu não mantivesse a minha integridade, jamais poderia me integrar."
E assim foi se dando o desenvolvimento da Marji, em vários contextos. Sua vida oscilou e a história segue mostrando todos os seus caminhos e aprendizados, nos fazendo refletir e aprender uma coisinha ou outra junto com ela.
"Só podemos ter dó de nós mesmos quando ainda é possível suportar a infelicidade... Quando ultrapassamos esse limite, o único jeito de suportar o insuportável é rir dele."
"É o medo que nos faz perder a consciência. É ele também que nos transforma em covardes."
Foi uma leitura extremamente válida e eu recomendo muito a todo mundo. 

Curiosidade / informativo

Acabei encontrando por acaso uma matéria de 2013 que afirma ser errado e preconceituoso usar xiita como sinônimo de radical (como costuma/costumava ser comum aqui no Brasil). Clique aqui para ler.

Destaco um trecho da matéria:

"A origem da associação de “xiita” com “radical” está na Revolução Islâmica do Irã. Os iranianos são majoritariamente xiitas e esta corrente do islã foi usada como arma ideológica na derruba do xá Reza Pahlevi, um ditador aliado do Ocidente e, curiosamente, também xiita.

O regime que o sucedeu ocupou a embaixada dos EUA em Teerã, mantendo centenas de diplomatas americanos como reféns, além de enforcar iranianos dissidentes em público. Naturalmente, brasileiros que assistiam a estes eventos na TV passaram a ver os xiitas como extremistas. Poucos, claro, dariam importância aos iranianos liberais (e xiitas) de Teerã, com uma vida noturna que não deixava nada a desejar para São Paulo ou de Istambul."

A história de Persépolis retrata exatamente essa época e se passa em Teerã e nos mostra exatamente como nem todo mundo é igual. Gostei de ter encontrado essa matéria porque já ajuda a acabar com mais esse close errado, né não? Respeito sempre.

2 comentários:

  1. Esse tá na minha estante esperando um momento pra ser apreciado com o devido respeito que merece! Gostei muito de todas as curiosidades extras que vc trouxe.

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    1. Essa HQ merece ler com atenção e cuidado mesmo, foi uma super experiência! Obrigada. =)

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