Como beber dessa bebida amarga? Meus sentimentos diante do cenário político atual

Oi, gente. Tudo bem?

Como vocês estão sobrevivendo por aí nesses tempos tão cabulosos? Resolvi escrever esse texto porque eu não tenho estado bem. Esse mês tá sendo o mais difícil para conseguir concentração para leituras ou qualquer outra atividade da minha rotina normal, que dirá para qualquer coisa que eu ainda quero fazer fora dela. Por isso o objetivo desse post vai ser meio que um bate papo/desabafo para ver se a gente consegue se unir e se apoiar, ok? Independente de qualquer coisa.

Fig. 1 Referências a música "Cálice" de Chico Buarque, notícias e citação da Maya Angelou.

"A verdade é que nenhum de nós pode ser livre até que todos sejam livres." — Maya Angelou

Diante do cenário em que nos encontramos acho que finalmente conseguimos entender que política é importante na vida de todos e que precisa SIM ser discutida, né? Talvez se a gente tivesse esse costume desde sempre a gente não estivesse passando por esse momento tão extremo. Não é porque tem conflito que precisa ser um tabu (e aqui eu gostaria muito de recomendar a quem ainda tem medo do tema ou acha que é muito difícil de entender certas coisas, que assista a série de política da Jout Jout e o início de um novo projeto dela, que ajuda a dar uma esperancinha na política também: políticos políticos).

A gente chegou num ponto em que fico pensando em vários "se's". O que será que levou a gente a chegar até aqui? Será que dava pra ter mudado algo antes? Será que ainda dá pra mudar algo agora (digo, antes do segundo turno)? Onde estava escondido tanto ódio? Esse ódio estava mesmo escondido ou a gente tava só ignorando? Não tenho resposta pra nada disso, nesse momento acho que 42 também não vai nos ajudar (talvez 13, cof cof).

Me sinto perdida. Às vezes completamente desesperada e com um medo que nunca tive igual. E no meio de tanta luta, cansaço. Me sinto podada também com esse silenciamento velado que começou com uma explosão de casos de violência contra minorias (aka. grupos marginalizados na sociedade). "Atordoada eu permaneço atenta" (licença poética de gênero, com licença). É isso. 

É engraçado (e triste) porque eu aqui, no meu próprio espaço, me sinto coagida a escolher muito bem as palavras que vou usar. É assim que eu tenho me sentido no geral, como se eu não pudesse mais só sair falando o que eu penso, porque tenho medo de como as pessoas vão me interpretar e como isso pode afetar o futuro, de alguma forma. Que loucura, né? Revendo agora o que escrevi, parece o discurso de gente que pensa no "politicamente correto" como forma de ameaça aos seus próprios preconceitos, mas as minhas ideias são, na verdade, contra uma classe dominante que abusa do seu poder para manipular o povo através de mentiras deslavadas e disseminar seus discursos de ódio contra minorias. "Tanta mentira, tanta força bruta". E, como mulher, me sinto ameaçada nesse momento. E tem gente por aí que está ainda mais ameaçada e a vontade que eu tenho é de abraçar todos eles.

Vocês têm noção do que é ouvir de uma amiga (que porventura é negra) que ela tem medo de sair na rua e não voltar mais? Que, na verdade, trabalha a ideia de morte na cabeça há anos? Isso porque o racismo tá aí desde sempre e a gente nem para pra pensar em como deve ser viver com essa ameaça em mente, diariamente, que agora se agrava. Aliado a isso, recentemente vimos o pronunciamento do ex-líder da Ku Klux Klan. Eu só consigo pensar em: que mundo é esse em que estamos vivendo? Isso é real? E o mais triste é que é real sim. Eu também ouvi um amigo falando que pela primeira vez teve medo de dar a mão ao namorado na rua. É um medo que transborda. É um medo que sufoca.

"Como é difícil acordar calado
Se na calada da noite eu me dano
Quero lançar um grito desumano
Que é uma maneira de ser escutado"

— Chico Buarque. "Cálice".

O mais difícil desse momento é o esforço que a gente faz para sermos compreendidos, explicando incessantemente coisas que deveriam ser óbvias para pessoas que se recusam a ouvir além do seu círculo. Isso, de fato, é cansativo. Tenho tentado jogar palavras ao vento para ver quem eu atinjo, procuro pessoas "do outro lado" para tentar entender seus raciocínios, mas nada disso parece que está sendo frutífero. O mais engraçado, porque é irônico, é que parece que a maioria está buscando a mesma coisa, mas uma grande parcela está sendo enganada e ficando cega com as fake news (veja esse perfil no instagram que desconstroi algumas delas: @eunaomeanulo). Isso é desesperador! Porque dá medo das consequências.

Infelizmente a gente não tem muito mais o que fazer diante desse cenário que está formado, a não ser esperar pelas tais consequências. "Na arquibancada pra a qualquer momento, ver emergir o monstro da lagoa". O lado bom é que no meio de todo esse caos, de vez em quando surgem boas notícias para renovarmos as esperanças. E eu sigo assim, me agarrando a toda esperança que eu puder, mas esperando pelo pior.

Eu só espero que nesse momento possamos encontrar uma boa rede de apoio, independente de qualquer coisa e independente do resultado de tudo isso. Saibamos que temos gente do nosso lado e que não vamos desistir de lutar pelos nossos direitos, pela nossa liberdade, por uma equidade para que possamos viver numa sociedade mais justa para todos, de fato.

"Talvez o mundo não seja pequeno
Nem seja a vida um fato consumado
Quero inventar o meu próprio pecado
Quero morrer do meu próprio veneno"

— Chico Buarque. "Cálice".

P.S.: Não esqueçam de uma coisa. Que a gente saiba a hora de lutar e a hora de pegar mais leve, porque precisamos preservar também a nossa saúde mental. Quem quiser, pode vir conversar comigo. 

P.S. 2: Se você está indeciso quanto as propostas de cada candidato, dê uma olhada no site toindeciso.com. É uma fonte neutra que possibilita a comparação de forma mais fácil, direta e eficaz com base nos planos de governo propostos.

P.S. 3: Se você é contra o PT, assim que ele assumir, você pode ser oposição e lutar de forma democrática. Mas leve em consideração que Haddad não é Lula e dê a chance de conhecer suas propostas para depois poder cobrá-las.