sexta-feira, 22 de dezembro de 2017

As Aventuras de Tom Bombadil, Tolkien, Fantastona cumprida e mais!

Fig. 1 As Aventuras de Tom Bombadil, J. R. R. Tolkien e outras obras. Lido de 18 a 21/12/2017.

Lá e de volta outra vez... Cá estou eu mais uma vez na Terra-Média, visitando esse mundo maravilhoso criado pelo mestre J. R. R. Tolkien que eu tanto amo. As Aventuras de Tom Bombadil foi meu segundo e último livro da maratona literária #Fantastona2017, que participei no nível de aprendiz (pra conhecer e testar meus limites e deu certinho, rs). Como aprendiz eu precisava cumprir no mínimo três dos desafios propostos. Com esse livro eu cumpri mais dois (totalizando quatro desafios cumpridos):
  • Alta Fantasia (ambientado em um universo totalmente novo);
  • Livro que está na TBR há um bom tempo;
Quem é Tom Bombadil?

As aventuras de Tom Bombadil é na verdade um spin off, digamos assim, das histórias da Terra-Média, ambientação incrivelmente detalhada toda criada por Tolkien - desde a criação do mundo, das raças, línguas... - então eu não recomendo a leitura se você não conhece esse mundo. Mas recomendo muito que conheça! Porque o trabalho do Tolkien foi nem tenho palavras inigualável, de uma criatividade impressionante, e influenciou tantas coisas que temos no mundo da fantasia de hoje, incluindo jogos de RPG (como o D&D) em que você se aventura usando apenas a sua imaginação (e alguns dados, rs). Mas eu não vim aqui pra falar disso. 

Pra quem não sabe, o Tom Bombadil "é o senhor da floresta, da água e do monte" segundo a própria Goldberry - sua esposa - (ou Fruta D'Ouro) no cap. VII do livro O Senhor dos Anéis - A Sociedade do Anel (eu na verdade estou revendo o capítulo na versão em pt-pt que é "A Irmandade do Anel"). Ele é o mestre mas ele não é dono.
"As árvores, as ervas e todas as coisas que crescem ou vivem na terra pertencem a si mesmas. Tom Bombadil é o Mestre. Nunca ninguém surpreendeu o velho Tom a caminhar na floresta, a vadear o rio ou a saltar no cume dos montes, debaixo de luz ou de sombra. Ele não tem medo. Tom Bombadil é o Mestre."
Tom era um bardo dos bons, ainda no mesmo capítulo, quando Tom Bombadil contava (ou cantava) as histórias para os hobbits que na sua casa estavam abrigados, era assim que se sentiam e era assim que acontecia quando ele se expressava:
"(...) Nisto, calou-se e os hobbits viram que cabeceava, como se estivesse a adormecer. Continuaram imóveis diante dele, fascinados. Dir-se-ia que, sob o encantamento das suas palavras, o vento partira, as nuvens tinham secado, o dia findara, a escuridão viera de leste e oeste e todo o céu estava coalhado de estrelas brancas."
<< Leves spoilers de O Senhor dos Anéis no próximo parágrafo >>

Tom Bombadil é tão incrível que não se sentiu tentado pelo Um Anel, mesmo quando o usou rapidamente. E também conseguiu enxergar o Frodo, quando o mesmo usou o Um Anel na frente de todos (pra quem não conhece a história - o que eu acho difícil, porém é possível -, quem usa o Um Anel fica invisível para as pessoas a seu redor). Considerando que até o Gandalf se sente afetado pelo  Um Anel, Tom Bombadil não é pouca coisa não! E como eu queria saber mais sobre esse personagem que me cativou tanto, se tornando o meu preferido da história. Ele merecia mais que um capítulo e meio de um livro. Ele merecia um livro inteiro. E eis que me chega em mãos esse que era pra ser o centro desse post, As Aventuras de Tom Bombadil. Por que eu demorei tanto para ler? Eu sinceramente não sei. Coisas da vida.

Primeiras impressões / sentimentos

Achei que As Aventuras de Tom Bombadil seria difícil de ler rápido, por ser um livro de poemas cheios de referências, mas não foi exatamente assim. Os textos não são escritos pelo Tom e, na verdade, apenas dois falam de suas aventuras. O restante do livro se trata de contos de fadas da Terra-Média. Dessa forma, o livro me surpreendeu e acabou que tudo nele me despertava curiosidade (apesar de ter sido diferente do esperado). Cada verso poderia ser uma referência a qualquer parte da história da Terra-Média e eu li atentamente e com cuidado, sim, mas a curiosidade me levou rápido. Me encontrava feliz por estar de volta a esse universo que anos atrás me trouxe tantas coisas boas. Acabou sendo uma experiência muito legal finalmente ler esse livro, mesmo depois de tanto tempo (e talvez justamente por ter sido depois de tanto tempo). Confesso que a leitura foi um pouco difícil sim em algumas partes, principalmente no inglês que foi inspirado "em formatos celtas, anglo-saxões e Old English, com eventual incursão em modelo do antigo dinamarquês, islandês e Old Norse", ufa. Também não sei se peguei todas as referências (provavelmente não), mas não me importei tanto. Foi emocionante estar lendo algo do universo do Tolkien de novo. Lá e de volta outra vez, sim. De volta à Terra-Média, um mundo lindo e mágico, às vezes conflituoso e caótico, porém bem bonito e animado com o Tom. Apesar de aqui mostrar um outro lado dele, de caráter meio grosseiro, mas beirando pro humor.

Sobre o livro

As Aventuras de Tom Bombadil se trata de um livro com poesias escritas por J. R. R. Tolkien, publicado em 1962. Os poemas entram no livro como ficção/fantasia, de modo que na visão de dentro do livro eles foram escritos por personagens já conhecidos, como Bilbo ou Sam Gamgee, e fazem parte do Livro Vermelho (o prefácio dessa edição traz indicações de quem pode ter escrito cada um, assim como as circunstâncias em que podem ter sido escritos). Eles podem ser cantados, fazendo parte de um folclore e contam histórias diversas que se passam pela Terra-Média. Podem ser vistos como canções que bardos utilizavam para repassar histórias, falar de lendas e mitos. A edição que li foi a da Martins Fontes, selo Martins, e ela traz três versões dos poemas. São duas traduções para o português do Brasil e a versão original em inglês, uma vez que muito se perde numa tradução dessas. 

Os dois primeiros textos contam aventuras do Tom e suas interações com outros seres da floresta. O primeiro  (As aventuras de Tom Bombadil / The Adventures of Tom Bombadil) é interessante por citar a Fruta D'Ouro, contando de seu casamento. Mostra um Tom mais "mandão" e mais respeitado (ou obedecido) pelos outros. O segundo (Tom Bombadil passeia de barco / Bombadil passeia de barco / Bombadil Goes Boating) conta sobre uma visita do Tom ao Condado para ver amigos hobbits. Esse já mostra um lado diferente, é um poema mais cômico com o Tom sendo caçoado pelos outros, mas ainda assim, é um Tom que sabe responder e é ouvido. E por fim, bebe com os amigos hobbits e vai embora sem ninguém perceber. Contam as lendas que aqueles que interagiram com ele nesses versos, caçoando a princípio, acabaram por auxiliar no seu retorno. Nessa, o Tom esquece seu remo no Condado e tem a desculpa perfeita para voltar em uma outra oportunidade para uma nova visita. Foram poemas alegres e divertidos de ler.
"Why wait till morrow-year? I'll take it when me pleases.
This day I'll mend my boat and journey as it chances
west down the withy-stream, following my fancies!"
p. 139
O terceiro, A missão sem destino / Vida errante / Errantry, foi escrito por Bilbo e conta aventuras diversas, batalhas, toda uma jornada, pra no fim o aventureiro se esquecer de tudo o que aconteceu e precisar ir de novo. Lá e de volta outra vez? 
"pra sempre um mensageiro,
um passageiro, não certeiro,
vagando, pluma inconstante,
o sempre errante marinheiro" p. 91
Ele traz todo um clima de aventuras da Terra-Média mesmo, me deixou nostálgica no que toca o Bilbo. E eu também me identifiquei muito com a falta de memória do aventureiro, rs.

E o livro assim segue, com diversas outras aventuras e curiosidades desse mundo tão rico criado pelo Tolkien. Preciso deixar um gostinho pra quem ainda vai ler, rs. Mas saibam que tem coisas nesse livro que não foram citadas em nenhuma outra obra, e aventuras que envolvem dragões, como tesouros foram passados de raça a raça e acabaram perdidos. Será que tem a ver com os tesouros élficos abandonados/perdidos que vimos em O Senhor dos Anéis? Será que o dragão guardando tesouros pode ter sido uma referência ao Smaug de O Hobbit? E as histórias gondorianas, um Rei ausente "Se um dia o Rei retornar" (p. 19)? 

Pois é, esse é um livro muito rico, sem dúvidas, mas também é um livro que levanta várias questões pra quem conhece as histórias da Terra-Média (pelo menos pra mim levantou, rs). Eu? Eu não li ainda tudo que há pra ler. Há muitos anos li O Senhor dos Anéis, O Hobbit e tentei ler Silmarillion, mas falhei miseravelmente (muitos nomes, muitos tipos de elfos, muitos lugares, muitos muitos muitos detalhes que talvez eu não estivesse preparada na época pra assimilar). Ler esse livro agora me inspirou muito e me deu muita vontade de embarcar nesse mundo mágico de novo. Primeira meta pra 2018: ler Silmarillion, reler O Senhor dos Anéis e ler Contos Inacabados! Acredito que eu precise reler O Senhor dos Anéis para conseguir captar melhor os detalhes que eu com certeza já não me lembro mais. Até porque todos nós sabemos que adaptações cinematográficas não são completas (o filme dO Senhor dos Anéis não teve nem o Tom Bombadil! Imagina... Lembro que foi uma decepção pra mim na época, porque ele tinha se tornado o meu personagem favorito do livro, rs).

Nota: Caso se encontrem em perigo, lembrem-se de cantar os versos (tirados do cap. VII  de O Senhor dos Aneis: A Irmandade do Anel):
"Hô, Tom Bombadil, Tom Bombaillo!
Através de água, mata e monte, junco e salgueiro,
Através de fogo, Sol e Lua, presta atenção e escuta!
Vem, Tom Bombadil, que a necessidade aperta!"
Trilha sonora pra leitura

Se você for ler esse livro, recomendo fortemente que o faça ao som da trilha sonora do filme O Senhor dos Anéis. Eu fiz isso e acredito que tornou a experiência muito mais intensa. Você pode encontrar ela nas plataformas online deezer e spotify, só clicar nos links. Recomendo especialmente a faixa Concerning Hobbits (deezer / spotify) pros poemas que forem mais voltados pro Condado. E The Breaking of the Fellowship (feat. "In Dreams") (deezer / spotify) e May It Be (deezer / spotify) pros gondorianos, porque são muito lindas mesmo. Eu ouvia em looping até o fim dos versos, quando necessário, rs.

Seleção de quotes e alguns comentários
"(...) Depois virava a cabeça, 
E seus olhos abaixava, 
Para ver o movimento embaixo dela 
De uma princesa Si, 
Tão bela quanto era Mi, 
Cujos pés tocavam a ponta dos pés dela!" 
- 4. A pequena princesa Mi, tradução William Lagos, p. 30
"(...) Pois onde poderiam estar os caminhos
Que conduzem a um país
Onde não se anda em pé,
Mas pendurados sobre um céu de estrelas?..."
- 4. A pequena princesa Mi, tradução William Lagos, p. 31
Não sei se foi a intenção, mas eu achei que "princesa Si" e "princesa Mi" poderiam ter tido relação com notas musicais. Será? Acredito que não foi a intenção original do Tolkien, porque no original os nomes eram "Princess Shee" e "Mee", mas talvez tenha sido uma boa sacada do primeiro tradutor. O segundo trecho do mesmo poema eu destaquei só porque achei bonito mesmo, rs.

"Num pingue e num pongue as cordas arrebentaram! 
A vaca deu um pulo por cima da Lua! 
O cachorrinho achou graça e riu às gargalhadas 
E o prato dos sábados disparou numa corrida levando consigo a colher dos domingos!..."
- 5. O Homem da Lua se demorou demais, tradução William Lagos, p. 34
Eu achei esse trecho bem elaborado e engraçado, destaco aqui pra mostrar que nem tudo é épico, tem  poemas cômicos e fantasiosos também.

"Pois todas as quintas-feiras ele ia tomar chá 
e se sentava no chão da cozinha. 
Cada vez o velho Troll parecia ir ficando menor, 
À medida que ele mesmo crescia!..." 
8. Perry-the-Winkle, ou o "Caracol-da-Praia", tradução William Lagos, p. 46
Adorei como o conceito de equidade se encaixou aqui. A história é de um Troll que me lembrou muito o monstro do Frankenstein (e só por isso já seria muito interessante). Ele só queria ser amado, queria amigos, mas todos tinham medo dele. Até que o Perry o aceitou de coração aberto e o Troll o convidou para tomar chá. E o Perry se fartou. Comeu tanto que foi ficando maior, e o Troll diminuindo. Achei lindo e bem comunista. xD

""Quem sabe desço o Voltavime até o Brandevin; 
amigos meus lá vão fazer fogueira para mim 
no Fim-da-Sebe. Lá conheço um povo bom, miúdo, 
que me recebe. Vez por outra para ali me mudo."" 
2. Bombadil passeia de barco, tradução Ronald Kyrmse, p. 82
Não comentei antes, mas no livro é dito que o Ronald é um especialista na obra do Tolkien, por isso a tradução dele traz os nomes mais certinhos. Além disso, ele também se esforçou para respeitar a métrica do Tolkien, mesmo que tivesse que mudar algumas coisas da tradução literal (por isso é legal que tenha mais de uma tradução e o original pra comparar as intenções e o que pode ter sido perdido). Mas no geral, gostei bastante das traduções dele! E selecionei esse trecho porque foi um dos que me deixou nostálgica por falar do Brandevin e dos hobbits. Muito amor. Saudades.

""Atravesso o Brandevin pra Divisa do Condado, 
mas pro meu barquinho o rio vai muito apressado. 
A quem me receber com vontade irrestrita 
desejo linda noite e uma manhã bonita."" 
2. Bombadil passeia de barco, tradução Ronald Kyrmse, p. 85
De novo, só porque é muito lindo. <3 

"He battled with the Dumbledors,

the Hummerhorns, and Honeybees,
and won the Golden Honeycomb;"
3. Errantry, p. 149
Esse trecho eu destaquei apenas por motivos de: Dumbledors? Será que a nossa também queridíssima J. K. Rowling se inspirou na obra de Tolkien pra nomear o bruxo mais importante do universo de Harry Potter, Dumbledore? Fica a dúvida e a curiosidade. Não encontrei informações sobre isso, apenas um comentário que também levantava essa questão, mas que tinha uma resposta/achismo bem preconceituoso dizendo que a J. K. Rowling, se tivesse lido a obra de Tolkien, não teria passado de O Senhor dos Anéis (infelizmente não estou conseguindo encontrar a fonte novamente). Ah vá. A título de curiosidade, William Lagos traduziu "Dumbledors" como "Dambeldouros" e Ronald Kyrmse como "Besouros". E nesse site descrevem (em tradução livre) como raça feroz de insetos alados.

"Why wait till morrow-year? I'll take it when me pleases." 2. Bombadil Goes Boating, p. 139
Por último repito essa frase porque achei a mais linda de toda a obra. Dessas pra gente levar pra vida. "Por que esperar o ano que vem? Vou fazer o que me agrada." (tradução William Lagos, p. 14) / "Por que esperar o outro ano? Farei o que me agrada." (tradução Ronald Kyrmse, p. 81). Tá na hora da gente parar de esperar e fazer mais por nós! Nós merecemos. Eu mereço. Você também merece. Vamos nos amar!

E assim me despeço. Obrigada a todos pela atenção e tenham todos ótimas leituras e boas festas (caso eu demore a voltar, rs)!

5 comentários:

  1. Muito legal! Fiquei bem curiosa de ler esse agora, mas ainda não tenho rs
    Adorei a frase, bem clima de ano novo vida nova rs

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    1. Siiim, também adorei a frase, to levando pra vida mesmo. <3

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  2. Foi ótimo relembrar a sensação de ler esse livro. Deu vontade de repetir com a trilha sonora 😍.

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  3. Foi ótimo relembrar a sensação de ler esse livro. Deu vontade de repetir com a trilha sonora 😍.

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