terça-feira, 11 de abril de 2017

A Política Sexual da Carne - A relação entre o carnivorismo e a dominância masculina / Carol J. Adams

Lido de ~07-16 a 16-02-17

O texto está dividido em duas partes, "sentimento" onde eu vou expôr como me senti lendo o livro e o contexto em que foi lido, e "opinião" onde vou fazer uma pequena análise do livro e dar a minha opinião sobre a mensagem que o livro traz, destacando trechos que me chamaram mais atenção. Dessa forma não fica um textão maçante caso você não queira ler tudo, mas seria muito legal se lesse, rs.

Sentimento

Eu como pessoa que está mais acostumada a leituras fantasiosas e de ficção me vi aqui diante deste livro um pouco perdida. Território novo, mas por que não dar a chance? Um amigo me recomendou e emprestou esse livro, já que ele viu em mim a pessoa que transpareço nas redes sociais. Cyber ativista feminista será que posso chamar assim?, na luta pelas classes oprimidas, e de quebra, vegetariana. Ora, pareceu bem certinho mesmo. Um bom fit.


Comecei a leitura realmente curiosa. Estava tão acostumada com o mundo virtual que o livro pareceu pra mim, a princípio, como um grande textão do Facebook. Porém seu copyright vem de 1990, quando mal existia internet, e até o mundo do finado Orkut estava “tão, tão distante”.

Logo de cara percebi uma linguagem mais difícil que o comum, não estava familiarizada com os termos um tanto técnicos utilizados no texto, mas fui em frente com algumas pesquisas aqui e ali. Com o tempo a leitura foi ficando cansativa, um texto bem repetitivo, como que para realmente fixar aquilo ou talvez para o caso de serem lidos apenas alguns capítulos isolados, como é feito em algumas disciplinas de humanas (e minha experiência com isso foi ter feito uma licenciatura). Então de cara não sei bem se o livro foi feito pra ser lido de uma vez, corrido, mas sim assimilado com calma. Saboreado sem mortes envolvidas com cuidado. E assim decidi que ia intercalar capítulos dele com outras coisas. Nessa decisão talvez eu tenha sido um pouco equivocada, pois creio que isso me afastou completamente do livro, uma vez que eu preferia leituras mais rápidas e confortáveis pro meu gosto até pra cumprir minha meta do ano de 2016 de ler pelo menos 12 livros, o que eu sei que é bem pouco, mas é difícil manter o ritmo o ano todo - desculpa sociedade :(. Acabei me perdendo e nisso lá se foram 6 meses sorry, Bob. Me vi então com um livro emprestado e que precisava devolver o quanto antes. Pois que seja, encarei e corri.

Opinião

Achei que o livro teve um quê de exagero, que muitas vezes não me desceu bem. Como por exemplo, perto do fim ele dá a entender que é contra o consumo de álcool. Pois o que tem isso a ver com o consumo de animais mortos? Não entendi. Não concordo. Não vi aí ligação alguma com o assunto que estava sendo tratado. E daí se eu gosto de beber um pouquinho de vez em quando? rs Mas deixando de lado as discordâncias, gostei muito de algumas partes e vou ressaltá-las.

Achei muito interessante o foco dado à ligação do vegetarianismo e feminismo. Não é algo que a gente vê de forma clara por aí. Talvez seja realmente bem difícil para mulheres feministas e vegetarianas tocarem no assunto, considerando que a sociedade patriarcal dominante nos ridiculariza. Mesmo algumas mulheres não conseguem aceitar essa ligação, talvez por se sentirem diretamente afetadas por comerem carne, o que é cultural. A questão que o livro levanta é justamente como o vegetarianismo ajuda a lutar contra essa cultura dominante. Contra o que ele chama de “textos da carne”. Pra resumir e eu não acabar aqui escrevendo mais um livro, somos oprimidas, objetificadas, dominadas pela sociedade patriarcal da mesma forma ou quase mesma - sei bem que existem diferenças que os animais também o são. E a partir do momento que você objetifica um animal (ou uma mulher), você se acha no direito de fazer o que quiser com ele (ou ela). Certo? Errado. E é aí que negar o consumo desses animais mortos (e aqui eu não quero fazer uso do referente ausente - ou seja, "negar" a existência do animal - e chamar de carne) seria tão importante.

O interessante é que essa postura vegetariana combate os “textos da carne” de diferentes formas. Não só pelo ato de negar o consumo, mas também na forma da escrita, que é bem ressaltado também no livro, que contém inclusive um capítulo inteiro analisando a obra Frankenstein, de Mary Shelley. Coincidentemente ou não, eu estava lendo Frankenstein antes desse meu amigo me oferecer esse livro. E eu adorei. Tornou a experiência de ler A Política Sexual da Carne bem mais completa. Pra quem não sabe, o monstro de Frankenstein é vegetariano. E disso ninguém lembra, quando vai recontar a história em algum outro formato, né? Eu pelo menos não fazia ideia e gostei muito de saber. É vegetariano e tem seu lado bom, mas é ridicularizado e temido pelos humanos por conta de sua aparência monstruosa. Recomendo também a leitura.

Bom, retomando aqui ao política sexual da carne, ele também retrata uma visão política, claro. E gostei particularmente do trecho:

“O que eles queriam de um porco eram todos os lucros que ele podia dar; e era isso que eles queriam do trabalhador, e era igualmente o que eles queriam do público. O que o porco pensava daquilo e o que ele sofria não era levado em consideração, o trabalhador e o comprador de carne eram igualmente desrespeitados.”

Bem vindos ao capitalismo. Estamos todos sendo explorados. Inclusive mais recentemente vimos isso acontecer com a Operação Carne Fraca que revelou muitos podres - literalmente - da indústria da carne.

Uma outra faceta do consumo de animais mortos é o desentendimento de ideias entre consumidores de carne x vegetarianos. Entendo que às vezes seja difícil mesmo um compreender o outro, por terem linhas de raciocínio um tanto diferentes. É daí que surgem, na melhor das hipóteses, os debates; na pior, as piadinhas, a humilhação etc. Pra mim consumir vida é consumir alimentos provenientes de vegetais, o que talvez se torne mais literal se estiverem frescos. Mas existe uma diferença de pensamento que eu achei interessante notar e o livro a ressaltou:

"O simbolismo do consumo de carne nunca é neutro. O carnívoro acha que come vida. Para o vegetariano, ele está comendo morte. Existe um tipo de mudança de gestalt entre as duas posições que dificulta a mudança e torna complicado simplesmente fazer perguntas sobre a questão sem termos de nos preparar para o debate."

Por fim, pra ressaltar a ideia de textos da carne e textos vegetarianos, durante a minha leitura eu destaquei por último o seguinte trecho:

“Para onde vai o significado feminino numa cultura patriarcal? Se os significados não têm para onde ir, em termos de mundo verbal, para onde eles vão? Talvez o significado das mulheres seja expresso de modo diferente quando elas se veem silenciadas. É possível que a comida se torne a linguagem falada da dissensão? Uma vez que as mulheres são as principais preparadoras de comida na cultura ocidental e a carne é definida como comida masculina, o vegetarianismo emana um significado dentro de uma linguagem que quer escapar do seu próprio silenciamento.”

Pois aí está destacado um exemplo de luta que podemos pôr em prática e que ao mesmo tempo poupamos tantas outras vidas. Se a carne é um símbolo masculino ("macho de verdade come bastante carne", "precisa de força", e tantos outros discursos esdrúxulos que tanto ouvimos a vida toda - que é inclusive histórico e o livro pode dar mais detalhes sobre) e a mulher é quem cozinha (considerando a sociedade patriarcal/machista em que vivemos), pra que? Vamos todos comer legumes. Se o homem tira sua força da carne e com essa força ele pode se tornar um estuprador, olha aí uma arma. É claro que não é tudo literal, nem é tudo tão simples assim. Um homem pode não comer carne e ser estuprador também, existem muitas variáveis, mas acho interessante pensar um pouco e abrir a cabeça para essas ligações. Em todo caso, só o ato de matar um animal, confiná-lo para nosso bel prazer, considero por si só um ato de violência e covardia.

Mas também não devemos impôr o vegetarianismo às pessoas. Cada um tem seu jeito de lidar com as coisas, e isso nos leva a ter diferentes visões e comportamentos. Não gosto da ideia de ser imperativa e ser a dita “vegetariana chata”, que os consumidores de bicho morto tanto temem rs e dizer que fulana é mais ou menos feminista que ciclana, porque come carne/não come carne. Então vamos ser felizinhas, cada uma com sua realidade, sem impôr nada a ninguém? Vamos sim! Mas sempre que possível com consciência e muito respeito.

E quanto ao livro, se o tema te interessa, vale a pena conferir e tirar suas próprias conclusões.

No mais, obrigada por lerem até aqui. rs

Abs.

6 comentários:

  1. Adorei a resenha! Ainda quero muito ler esse livro! Relamente já vi muita mina vegetariana/vegana sendo desrespeitada até mesmo dentro dos grupos veg... bem triste isso. A falta de endender essa relação não se dá só dos não machistas onívoros, mas também dos vegetarianos machistas/racistas/lgbtfóbicos etc.
    Adorei também a curiosidade sobre Frankstein, não sabia que era vegetariano! hasuhassahu massa demais.. também descobri recentemente que a autora do livro é uma mulher. Também quero ler esse um dia.
    Parabéns pelo começo moça e que venham mais leituras! <3

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    1. Obrigada, moça! Acho que você vai gostar mesmo do livro. =) É uma luta mesmo pra mulher ser respeitada em qualquer espaço. Eu também achei muito legal quando vi que Frankenstein foi escrito por uma mulher, e mais ainda quando descobri que o monstro era vegetariano. Tornou tudo muito mais fascinante pra mim. rs E é realmente muito bom, tem até um viés acadêmico também na história. Mas enfim, obrigada pelo apoio! =***

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  2. Animei a ler esse livro... Obrigada pela resenha e sugestão!

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    1. Fico feliz em saber. Eu que agradeço o retorno. =)

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  3. Animei a ler esse livro... Obrigada pela resenha e sugestão!

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  4. Animei a ler esse livro... Obrigada pela resenha e sugestão!

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